atividade profisional
A atividade profissional como arquiteto foi mais efetiva na primeira década após a formação, justamente no período em que o modernismo era hegemônico e a atividade docente e de artista plástico se desenvolveram em paralelo ao longo de toda a sua trajetória. Sem dúvida, o que une a atividade de arquiteto, artista e professor é o desenho. Para Nearco, o desenho é a linguagem da arte e da técnica que, sintetizadas na qualidade do seu traço, qualifica-o e o distingue entre os arquitetos da sua geração.
Nearco sempre teve atuação profissional significativa, elaborando projetos relevantes na capital cearense, realizados a sua maioria em parceria, primeiramente com o arquiteto Reginaldo Rangel, com quem partilhou escritório e posteriormente com Roberto Castelo e com a colega Nícia Bormann, todos professores da Escola de Artes e Arquitetura da UFC e personagens importantes do modernismo em Fortaleza. Alguns projetos foram concebidos no âmbito do DOP/UFC, sobretudo aqueles que fazem parte do Campus do Pici, como a Biblioteca Universitária (1976) e o Núcleo de Processamentos de Dados, atual UFC Virtual (1979), além do Centro Esportivo da Universidade Federal do Ceará, também da mesma década.
Na obra de Nearco, é clara a filiação aos princípios da arquitetura moderna, que caracterizavam a produção da maioria dos profissionais da época. A estrutura independente, as linhas retas, o concreto aparente, os pilotis, o teto plano, os grandes vãos estão presentes no conjunto de sua produção arquitetônica, juntamente com o emprego de elementos locais, como cobogós, pérgolas, venezianas de madeira, etc., aspectos que serão explorados na sequência.
O arquiteto teve uma participação no projeto do Estádio Castelão (1969), importante exemplar da arquitetura moderna cearense, de autoria de José Liberal de Castro, Reginaldo Rangel, Ivan Brito, Marcílio Luna e Gerhard Bormann, que se valeram de seus serviços como desenhista técnico, elaborando os traços em papel vegetal e nanquim, a técnica utilizada à época.
No que se refere a sua atuação como artista plástico, desde cedo Nearco revelou excepcional talento para o desenho e sempre se dedicou às tintas, lápis e crayons, concebendo obras de inegável valor em diversas e variadas fases de sua carreira.
Nesse âmbito, merece destaque a pesquisa que desenvolveu sobre uma das mais autênticas manifestações da cultura cearense, as tradicionais jangadas e embarcações, que sempre o fascinaram. Além das idas frequentes ao Mucuripe, onde realizava desenhos inéditos, o artista percorreu o litoral cearense, visitando as praias de Acaraú, Camocim, Itarema, Mundaú, Lagoinha, Prainha, Cascavel, Icapuí, Aracati e Beberibe. Pode-se dizer que registrou, com seus traços e pinceladas, jangadas, barcos, canoas, botes, com esmero e riqueza de detalhes, compondo primoroso acervo sobre as embarcações cearenses.
Na obra do mestre, tudo tem seu lugar e momento. A lapiseira, o lápis de cor, o crayon, o giz de cera, o pastel, a tinta, os materiais, aguardam placidamente sua convocação para participarem do espetáculo de representação e expressão. O traço livre, o desenho a instrumento, as tramas, as luzes e sombras dos sfumatos, os tons fortes ou esmaecidos, as cores chapadas ou sugeridas, as texturas e seus limites são as notas musicais com as quais ele compõe esta sinfonia marinheira. (DUARTE JR, 2014, p. 78)
O material resultante compôs duas importantes publicações, "Jangadas" (1985), patrocinada pelo Banco do Nordeste em 1985 e, posteriormente, "Ventos, Velas e Veleiros - Embarcações Tradicionais do Ceará" (2014), em pareceria com o arquiteto Romeu Duarte Jr., autor dos textos, onde estão registrados exemplares magníficos que revelam a beleza das embarcações do litoral cearense.
Da relação que se estabelece entre projeto e desenho, como representante de uma geração que se valia desse instrumento com sabida maestria, Nearco também atuou nesse campo, concebendo belos desenhos de exemplares da arquitetura de Fortaleza, compilados numa publicação da série “Cadernos de Arquitetura Cearense”, com o tema “Desenhos: Arquitetura Antiga do Ceará” (2002), que reúne trabalhos dele e dos igualmente talentosos mestres nessa arte, os arquitetos Campelo Costa e Domingos Linheiro. O livro revela significativas expressões do acervo arquitetônico do Estado.
O arquiteto e artista participou de dezessete exposições individuais e quarenta coletivas, inclusive no exterior, obtendo 12 prêmios nacionais e 01 prêmio internacional. Expôs nos XIV e XX Salões de Abril, em 1964 e 1970. Entre pinturas e desenhos, diversos de seus trabalhos compõem coleções públicas e privadas pelo país, parte deles ainda hoje sob os cuidados do MAUC/UFC.